sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Faxineiro

Disseram que eu tenho que começar a contar a história desde a minha mais remota lembrança, pois assim analisariam minha mente.
Hã. Isso é o que eu desprezo nesses pobres mortais humanos. Sempre tentam achar explicações para tudo ao invés de apenas viver da forma que Deus os fizeram.
Eu morava na zona sul de São Paulo, filho único de um administrador de empresas com uma psicóloga.
Meu pai trabalhava numa grande corporação e minha mãe trabalhava para o estado, eles eram muito amáveis e me davam muito carinho.  
Meus pais estavam em casa todos os finais de semana.  Nós íamos ao cinema, parques, lanchonetes e restaurantes ou às vezes ficávamos em casa assistindo filme, nós três, bem juntinhos comendo a maravilhosa pipoca com muita manteiga que meu pai fazia.
Acredito que o início de tudo foi quando eu tinha doze anos e meu pai se separou da minha mãe para morar com o chefe dele. Eu e minha mãe descobrimos tarde demais que meu pai era gay.
A partir daí, minha mãe começou a beber e me batia quase todos os dias.  Eu não fazia nada e nem falava nada, pois tinha medo que ela fosse embora.
Eu não fazia nada de errado e mesmo assim ela espalhava hematomas pelo meu corpo. Nunca mais tive um afago ou um abraço de minha mãe, mas mesmo assim eu a amava e ficava horas olhando para seu lindo rosto e passando a mão em seu lindo e cheiroso cabelo enquanto ela estava chapada capotada no sofá da sala e me perguntava: “Que mal fizemos para receber esta recompensa?”.
Quando eu tinha quatorze anos, ou seja, dois anos de tortura, cheguei em casa da escola, encontrei a porta aberta.  Entrei e vi a chaleira no fogão seca, mas com o fogo ligado. Desliguei e chamei pelo nome da minha mãe. Nenhuma resposta. Comecei a vasculhar o apartamento e quando entrei no quarto dela, vi seu reflexo pelo espelho do banheiro.  Ela estava caída no chão junto a privada.  Corri e a abracei e chamava pelo seu nome, gritava por socorro, mas seu corpo estava pálido e seus lábios roxos. No seu braço havia uma seringa ainda enfiada na sua veia. Pensei que ela era viciada em drogas, mas depois da autópsia fiquei sabendo que ela se matou com um injeção de uma droga letal.
Como assim, ela se matou?  Eu não era importante para ela? Quem iria cuidar de mim?
No enterro, a “bicha louca” do meu pai perguntou se eu queria morar com ele, eu disse que jamais iria passar a vergonha e desonra de conviver com o pederasta desgraçado com seu companheiro rico de bunda empinada que arruinou nossas vidas e disse também que não iria morrer até ele pagar o que fez com minha mãe.
Fui para o conselho tutelar.  Colocaram-me num lugar horrível de se viver até que um familiar reivindicasse minha guarda o que não demorou muito.
Tio Alberto, ele conseguiu minha guarda por ter uma vida social e financeira estabilizada e morar há mais de quatro anos com a namorada numa bela casa.  Ele é o irmão caçula de minha mãe, e quando eu era criança ele sempre levava um brinquedo e ficava brincando comigo quando ia nos visitar.
Era já o quarto mês que eu estava vivendo ali.  Não era tão bom quanto as minhas lembranças de infância, mas eu tinha de tudo, até muito carinho.
Foi então que comecei a perceber coisas estranhas, eu estava com quinze anos e não era nenhum otário.  Eram mais ou menos três horas da manhã, acordei para ir ao banheiro que era meu quarto mesmo, escutei um barulho na sala e fiquei com medo, mas tive coragem o suficiente para olhar pela fresta que havia na porta e vi a namorada do tio Alberto em um babydoll vermelho se agarrando e beijando outra garota apenas de calcinha fio-dental no sofá da sala a meia luz.  Posso que dizer sim que inicialmente fiquei indignado, mas também muito excitado, enfiei a mão dentro da calça e comecei a me masturbar.  
Continuei olhando por alguns minutos, quando vi outra cena que me chocou profundamente, deixando-me aterrorizado.  No outro sofá, estava o tio Alberto fazendo sexo oral com um rapaz, os dois nus.  Foi a pior imagem do mundo. Fiquei desesperado e corri para minha cama.
No outro dia, agi como se nada tivesse acontecido, mas mal sabia eu que o pior estava por acontecer.
Passado algumas semanas, era uma sexta à noite, nos estávamos jantando e rindo bastante de piadas que o tio contava nos jantares e eles colocaram vinho em mais uma taça e me deram. Eu perguntei se eu podia beber e eles responderam que só um pouquinho, mas na realidade meu copo não parava vazio.
Depois de alguns copos eu percebi que no fundo da minha taça, tinha uns pedaços de pílula que borbulhavam, nem me incomodei e continuei bebendo e ficando ali naquela convivência quando a namorada do meu tio tirou sua camisa e ficou apenas de sutiã.   Lindos seios, boca carnuda, cabelos encaracolados, corpo escultural, muito linda mesmo.
Não sei o rumo que a conversa tomou, mas ela veio atrás de minha cadeira e começou a acariciar meu cabelo e rosto e foi descendo sua mão. Fiquei sem graça olhei pro tio e ele estava com uma das mãos embaixo da mesa, gesticulando, acredito que ele estava se masturbando.
Só me lembro de alguns flashs depois disso, mas acordei no outro dia com uma imensa dor de cabeça e dor no anus, com meu tio me abraçando por trás e sua namorada deitada a minha frente.
Ficamos sem nos falar direito durante umas duas semanas, mas ai aconteceu novamente em outra sexta feira, e depois novamente e novamente e novamente.
Eu não me lembrava direito o que acontecia, portanto em outra vez, eu pedi para fazer sem tomar vinho com ecstasy.   Ai sim, tive profundo ódio de ter nascido nesse mundo maldito onde os que deviam proteger são os que abusam.
Passei quase três anos vivendo desse jeito, sendo abusado pelo meu tio gay e sua namorada lésbica. A variedade de drogas e bebidas era tão grande que nem sei todos os nomes. Mas eu estava a ponto de ser salvo. 
Me alistei e fui pro exercito.
Eu estava sim no lugar certo.  Homens de verdade treinando para defender a nossa amada pátria.
Com cinco meses de treinamento eu era o melhor de minha turma, mas infelizmente aconteceu o que eu menos esperava naquele lugar.
Durante um treinamento, fomos separados em duplas e tínhamos que atravessar certa distancia em mata fechada.
No terceiro dia de caminhada, durante um banho no rio, meu companheiro de tarefa passou a mão na minha perna. Inicialmente tive como se não fosse intencional, mas ai ele agarrou minha coxa.  
Foi então que me veio à tona o pensamento do meu pai indo embora com outro homem, meu tio me pagando com força por trás, e o que foi ensinado pra gente na igreja e nas missas, que Deus criou o homem e a mulher para sua companhia. 
Não pensei duas vezes, peguei minha faca de trincheira e despendi um golpe em seu pescoço criando um corte tão profundo que dava pra ver o buraco de sua traquéia. 
O peguei em meus braços, ele agarrava minha mão com muita força e tentava fazer força para falar, mas não tinha como, pois não passava ar pela sua garganta, o sangue espirrava de sua artéria na freqüência da pulsação de seu coração. Então um anjo apareceu e mandou-me fazer o discurso que faço até hoje:
“Com esta simbólica morte, te liberto de seus pecados e te coloco novamente nos trilhos de Deus, devolvendo assim a real natureza humana, homem para mulher.”
Sim, ai eu pude ver qual era o meu chamado, qual era a minha função nesse mundo e o que eu tinha passado era a fase do engrandecimento do meu ser para me tornar nesse enviado divino para limpar o mundo da libertinagem, pederastia e lesbianismo, eu era o “Faxineiro” que limpa a bagunça depois da festa.
Cortei a cabeça dele fora e enterrei ali mesmo.  Arrastei seu corpo por mais uns três quilômetros e enterrei também numa cova bem profunda.  Usei meus ensinamentos para disfarçar minhas pistas.
Ao chegar ao ponto final, disse que tínhamos nos perdido e ele se separou.  Depois de uma semana de buscas, pedi a minha saída da corporação, alegando trauma psicológico.
Minha mãe havia me deixado algum dinheiro, não era o bastante, mas dava pra fazer alguns investimentos e viver humildemente de renda/pensão.
Quando fui retirar o dinheiro, descobri que meu tio como meu tutor havia gasto a metade para minha criação. Mas eu não poderia ter gasto tudo aquilo com minha educação, roupas e alimentos.  Então deduzi que ele usava o meu dinheiro para suas orgias, com drogas e bebidas, orgias nas quais ele abusava de mim.
Comprei duas casas em um bairro periférico, morava em uma e alugava a outra e investi o restante numa fonte de renda conservadora.
Pronto, estava estabilizado e tinha o meu sustento.
Estava na hora de trabalhar.
Comprei uma faca de trincheira igual a faca do “Rambo”, eu adoro este filme, assisti a todos.
Comprei uma pedra de afio, pois gosto de manter minha ferramenta extremamente afiada.
Fui a busca do meu querido tio Alberto e sua vadia lésbica.   Sei que não se pode misturar trabalho com prazer, mas meu tio era as duas coisas, meu trabalho e também seria um prazer imenso ver aquele desgraçado sangrando.
Cheguei à sua casa sexta à noite, e para minha surpresa havia um casal junto a eles que aparentavam ter menos de quinze anos, sim, um menino e uma menina.   Só pensei em uma coisa: “Vai morrer tuto!”.
Fui bem recebido e eles começaram a sua bebedeira e uso de drogas, eu apenas bebi uma taça de vinho, dizendo que gostaria de estar sóbrio quando fosse sentir meu prazer. Mal sabiam eles do que eu estava falando.
Quando eles começaram a tirar a roupa, eu sugeri que fossemos para o quarto para amarrarmos uns aos outros na cama.
Amarrei meu tio na cabeceira e sua namorada do outro lado. O rapaz, eu amarrei aos pés da cama e deixei a menina livre. Tirei minha roupa e encenei uma masturbação, não sei por que, mas eu estava com o pênis totalmente rígido, da mesma forma quando matei meu colega de exercito.
Nisso todos ficaram muito excitados e a menina que estava solta, tentou fazer sexo oral comigo, mas não deixei e sugeri que tapássemos as bocas dos amarrados. 
Então, tirei minha faca bainha, e por incrível que pareça, eles ficaram mais excitados. Não contive e ri, mas ri muito.  Peguei um lençol e o cortei em tiras e eu e a menina fomos amordaçando um por um.
Ao terminarmos, eu a abracei por trás e passava minha faca pelo seu corpo.  Os amarrados ficavam se esfregando e gemendo de excitação.
Eu a agarrei com força e soquei meu pênis com toda violência do mundo em seu ânus, e soltou um imenso berro e tentou se afastar e eu a segurei tapando sua boca, e socava cada vez mais forte e estava espirrando sangue.
Os amarrados não estavam mais achando gostoso, agora eles estavam com os olhos arregalados olhando para mim.  Dava pra sentir o cheiro do medo do meu querido tio Alberto.
Subi minha faca pelo corpo da menina e soquei no lado esquerdo e puxei até o lado direito, deixando a cabeça dependurada apenas por uma fina camada de pele e músculos.  Sim, cortei até os ossos.
Soltei seu corpo e terminei de decepar sua cabeça.  Seus olhos ainda piscavam e sua boca ainda tentava falar.    Os amarrados se debatiam e tentavam gritar e se livrar do seu destino.  
Lentamente vesti minha sunga, mesmo com dificuldade, pois estava muito excitado, vesti minha calça, e executei meu discurso:
“Com esta simbólica morte, te liberto de seus pecados e te coloco novamente nos trilhos de Deus, devolvendo assim a real natureza humana, homem para mulher.”
“Vá em paz pequeno anjo retorne para os braços do Pai.”
Na seqüência, peguei o rapaz, eu sabia que ele ia tentar reagir, portanto, primeiro despendi um golpe em seu abdômen, no baço para ser mais exato.  Isso drenou suas forças. Deitei-o na cama, ainda amordaçado, virei sua cabeça para meu tio desgraçado e sua vadia, e disse que aquele rapaz estava indo embora deste mundo por sua culpa.   Decepei sua cabeça.  Deu um pouco mais de trabalho, mas usando o outro lado da faca consegui estourar os ossos que não quiseram romper ao corte.
Meu prazer foi enorme quando vi meu tio se debatendo e tentando gritar.
Eu queria que a vadia estivesse bem consciente quando ela fosse libertada deste mundo, então, não a soltei da cama.  Apenas levantei sua cabeça, beijei sua testa e disse:
“Calma filha, a salvação chegou para sua alma doente.  Você será liberta e verá as coisas de outra forma, você se arrepende de seus pecados?”
Ela gesticulou a cabeça dizendo que sim e então, lentamente enfiei minha faca em seu pescoço, ela se debatia como se fosse uma galinha que a gente matava no exercito. 
Bem lentamente fui cortando seu pescoço, para que ela tivesse consciência do que estava acontecendo e sua alma se tornasse mais pura.
De repente o anjo apareceu na minha frente, mas apenas eu conseguia vê-lo.  É alto e totalmente reluzente, não dava para ver sua face, mas percebe-se que seus cabelos são longos e lisos, usa roupa estilo medieval e uma imensa espada “berseker” na bainha em suas costas.   Ele disse para eu purificar esta alma antes de enviá-la e disse também que a melhor maneira de purificar era bebendo o sangue que pulsava de sua jugular.   Enquanto o salgue pulsava e sua alma saia de seu corpo, eu bebia seu sangue com os olhos afixados nos olhos do meu querido tio que se debatia tentando se libertar e gritava amordaçado, sem sair som nenhum.
O anjo ficou ali, me olhando e disse que eu já poderia terminar.  Acabei não decepei a cabeça dela e fui em direção ao tio Alberto.   Dei duas facadas em seu abdômen, uma no intestino e outra no tórax no pulmão.  Eu o agradeci por ter me transformado no “Faxineiro” e que tudo aquilo era graças a ele.
O anjo me mandou executá-lo, mas não beber seu sangue, pois a imundice deste era muita.  Antes de cortar-lhe o pescoço, o anjo me mandou cortar sua genitália por completo e coloca-la na boca do tio, pois essa é a maneira de purificar seu espírito diante de tanta perversidade sexual cometida por ele.
Arranquei sua genitália ele não tinha mais forças, tirei sua mordaça, disse a minha frase do ritual da libertação. Enfiei sua genitália pela sua boca, mas havia muito sangue, então me irritei e terminei meu trabalho nesta casa.
Eu estava completamente coberto de sangue, portanto, tomei um banho e comecei a eliminar todas as pistas possíveis.  Peguei uma faca igual a minha e coloquei na mão da vadia da namorada do meu tio e segurando a mão dela cortei os cortes nos corpos apenas para deixar a marca do afio, deixei tudo como se ela fosse a autora dos crimes.
Fui embora e acordei realizado no outro dia.  Sentia que havia cumprido mais uma tarefa, fui enviado e estava realizando meu trabalho com excelência.
Foi extremamente prazeroso ver na televisão eles dizendo que a polícia trabalha com a hipótese da namorada drogada ter cometido os crimes numa crise de alucinação.
Hoje continuo aqui, vivo minha vida e faço meu trabalho, que ao longo desses doze anos já libertei mais de cento e quinze almas, inclusive a do meu desgraçado pai biológico e seu namorado pederasta maldito bombado de bundinha empinada, também numa praça pública na zona oeste de São Paulo o qual culparam um outro pederasta que sofre até hoje na prisão e sofrerá para sempre se depender de mim, mas isso é uma outra história.  
Eu sempre culpo um pederasta desgraçado, nunca um pai de família trabalhador que segue a ordem natural humana feita por Deus.
Enquanto existir essas abominações da natureza eu estarei aqui fazendo meu trabalho, sendo guiado pelo meu anjo, pois sou o “Faxineiro” que veio pra limpar o local da bagunça depois da festa.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O trem

Doze anos na mesma empresa, na mesma função e com apenas pequenos reajustes no salário. 
Sempre fui um trabalhador fiel, sempre cumpri minhas obrigações e nesses doze anos de empresa, faltei apenas três vezes, quando minha mãe morreu, quando fui atropelado e quando fui assaltado, pois tive que ir a delegacia fazer o boletim de ocorrência.
As pessoas que entram aqui, na minha mesma função, sobem de cargo em um ano, pois ficam “puxando o saco” do encarregado e “mamando nas tetas” da gerência.   Agora, eu não, não sou de ficar “babando ovo” de filho da puta nenhum, eu deveria e queria ser reconhecido pelo meu trabalho, pelas coisas que faço aqui.
Quando eu era criança eu tinha um sonho, era o de ser piloto de helicóptero. Eu ficava horas olhando para o céu, deitado em cima da laje, vendo quando eles passavam com suas pás giratórias metálicas, fazendo seu estrondoso zunido, estremecendo as coisas ao seu redor.   Era lindo quando eu via o da polícia ou do bombeiro, suas cores fortes mostravam a sua imponência, seus vôos rasos mostravam a habilidade de seu piloto e ai daquele que cruzasse seu caminho.
Aos dezessete me alistei na aeronáutica do Brasil, mas fui dispensado por excesso de contingente.  Depois tentei fazer de tudo para entrar na aeronáutica, pois esse era o melhor caminho para realização do meu sonho, pois eu era de família humilde e não podia pagar escola militar particular, todas as tentativas foram barradas por imposições da política brasileira.  Brasil, bosta de país com essa língua chula que nem nós sabemos falar direito.  
Esta foi a maior decepção da minha vida, foi maior até que quando morreu minha mãe.
Bom, com meus sonhos interrompidos, tive que trabalhar. Entrei nessa empresa, nesse cargo ridículo, extremamente simples que não explora meu potencial.  Financiei a casa pela Caixa e comprei um carro.
Nunca fui muito mesmo de ter vida social ativa, mas mesmo assim, há seis anos encontrei a Lucia, com quem me casei e tive dois filhos, o Leandro e Thiago.
A Lucia também nunca foi de sair, baladas, amigas, na realidade a gente tem muito em comum.  Ela trabalha como Técnica em Contabilidade, ela me disse que seus sonhos estão realizados, pois tudo o que ela sempre quis foi isso, bom trabalho, bom marido (eu), boa casa, bom carro e filhos.
Tudo isso, não me faz feliz.  Eu não agüento mais essa vida, e já tentei de tudo, psicóloga, centro, judaísmo, islamismo, budismo, catolicismo, e até igreja evangélica, mas nada tira de dentro de mim o gigantesco desdém que tenho pelo ser humano e suas crenças e deuses.
Tentei me matar algumas vezes, para ser mais preciso três vezes, mas não fui corajoso ou covarde o suficiente.  Tinha comprado um revolver e o engatilhava e apontava em minha cabeça.
Ninguém consegue me entender, ou essas pessoas que me rodeiam são tão idiotas que não vêem o que está a sua frente.
Então resolvi colocar um fim em tudo isso de uma vez por todas, mas não vou deixar minha história passar em vão, quero ser lembrado. 
Aliás, se você estiver lendo essa redação é porque tudo já aconteceu.
Peguei o trem por quatro dias seguidos, olhando passo a passo o que eu teria que fazer, planejando minhas mortes.
Então chegou o dia, acordei as quatro, escrevi uma carta de despedida para Lucia, para os meninos e para minha irmã, que não via há três anos,  peguei o carro, fui ao posto e comprei um galão de quatro litros de gasolina.
Eu já tinha comprado um acendedor de churrasqueira à bateria.
Coloquei o galão de gasolina em umas três sacolas com panos em volta para disfarçar o cheiro e coloquei numa mochila.
Usando um brinquedo do Leandro, fiz um dispositivo simples, juntei com pequenas mangueiras e uma bombinha de ar.  
Uma das pontas da mangueira eu coloquei dentro do galão de gasolina na mochila e a outra, passei por dentro toda minha roupa até meu pé direito.  Liguei mais uma mangueira dentro galão e a outra ponta na bombinha de ar que ficou na minha mão.  Então, quando eu apertava a bombinha, ela fazia pressão dentro do galão que empurrava gasolina para a outra mangueira despejando-a no chão, no meu pé.
Eram seis horas, quarta-feira, desci para a estação de trem de Guaianazes, para ir para o trabalho.  Passei as catracas e fiquei aguardando junto à multidão.
Nesse horário, são milhares pessoas pegando o trem, cada composição, vai lotada mesmo, em cada vagão você não consegue nem se mexer para arrumar os pés no local.
Entrei na primeira porta de um dos vagões do meio, fui caminhando para a ultima porta, pedindo licença e passando amarrotado pelas pessoas.  
Escutei reclamações do cheiro, xingos e senti cotoveladas e paulistinhas, mas não teve problema, continuei minha caminhada para o objetivo que era a ultima porta.
Quando cheguei na estação de Itaquera, eu estava a poucos passos do final do vagão, ou seja, a quarta porta, estava a alguns minutos de concretizar meu plano.
Pronto, sim, cheguei ao objetivo, estamos passando pela estação Patriarca e eles continuam reclamando do cheiro forte de gasolina.  Minha mochila estava vazia, eu deixara todo o conteúdo do galão nos pés dos passageiros pelo caminho que fiz, eu sabia que meu galão estava vazio e se tornou uma bomba em potencial, pois o gás deixado pela gasolina é extremamente inflamável.
Peguei o acendedor e gritei:
“Povo deste trem, malditos e desgraçados, tenho profundo ódio por vocês. Na realidade não tenho ódio apenas de vocês, mas de toda a humanidade”.  Riam de mim, gritavam comigo, me chamavam de louco.  Bem, continuei: “Hoje, é um dia que será lembrado pra sempre, e se algum de vocês sobreviver, diga ao mundo que eu gostaria de ser chamado de Terrorista do Trem da Zona Leste”.  
Acendi o acendedor. Alguns tentaram me agarrar, mas não tiveram tempo. 
Encostei o acendedor no rastro de gasolina que se espalhou rapidamente.  O fogo tomou conta primeiramente das pernas das pessoas e depois foi subindo pelos seus corpos.  Todos gritavam e se debatiam, mas não tinham muito o que fazer porque o estavam muito apertados.  
Pensei que o fogo se apagaria rápido pela falta de oxigênio, mas graças ao sistema de ventilação, o fogo aumentou. 
Meu corpo estava em chamas até o tórax, mas eu estava tão feliz e cheio de adrenalina que nem sentia. 
A composição estava em alta velocidade, e os vidros que não derreteram foram quebrados pelos passageiros em chamas tentando escapar. Algumas pessoas pulavam pra fora do trem e seus corpos eram retorcidos em postes e ficavam pelo caminho.
O cheiro de pele e pelo queimado era maravilhoso, eu via mulheres, homens e jovens gritando e se debatendo com fogo em seus corpos e cabelos.
Seus rostos se distorciam e cada vez que eles batiam nas chamas caia um pedaço de pele.
Ninguém mais prestava atenção em mim, então peguei a mochila e meu plano era acender o galão para explodir.
Quando peguei o galão, o abri e nem teve tempo de acender pois o mesmo explodiu automaticamente.
E é esse o fim da história.  Centenas de pessoas morreram, o vagão explodiu e se separou do principal o que ocasionou mais mortes, os fios elétricos queimaram e caíram nos vagões de trás, eletrocutando mais pessoas.
Tudo isso vi e escrevi antes de acontecer.